Homenzinho de bolsos e...

Há um homenzinho diferente, de hábitos peculiares e de difícil entendimento. Resguarda-se quase que integralmente, prevê seus atos, calcula antecipadamente o tamanho de suas palavras com uma régua que carrega em sua mochila. Cada palavra, uma medida. É nesta mochila, por sinal, inseparável às suas costas largas, que ele guarda segredos e surpresas. Mas não se engane. Ele mesmo não se engana. Seus atos e palavras são bastante falhos, embora previamente organizados. Sua régua é feita de tecido elástico, com marcações à mão de caneta tinteiro, e o homenzinho é desastrado em suas tarefas mais banais, como andar, segurar objetos, desviar dos mesmos. Ele canaliza as idéias, organizadas nem sempre, numa parte estratégica do seu cérebro e depois as separa, educadamente, em cada bolso, segundo qualidade, cor, tamanho e destinatário. Muitas vezes se perde por lá, maravilhado que fica, de modo a perder certos sentidos temporais e espaciais. O homenzinho se vislumbra muito facilmente com as pessoas também. Ele as admira de tal forma que pouco enxerga de ruim nelas. Apaixona-se pelos gestos, pelos risos, pelos silêncios e pelas incompreensões. Assim vive em paz o homenzinho, consigo e com todos, ele e sua mochila, carregados de ilusões e desapontamentos, numa eterna busca por onde pôr seus pensamentos, pelo tamanho de suas ações, pelo sentido completo de suas relações humanas. Eis um homenzinho.

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