Água fria em pontas de chapéu

Diz um velho deitado que são os mistérios dos planetas. É sabido até para o mundo mineral que criaturinhas de gorros engraçados habitam os céus numa extensão que abrange desde grandes constelações e supernovas, vez ou outra recolhendo-se na redoma de planetas-anões, até, por fim, em casos muito particulares e ainda inexplicáveis para os nossos botões, nuvens de estranhos tipos e formações.

"Um, dois, três, pula um de cada vez... Um, dois, três, pula um de cada vez..."

 A frequência das aparições, é bom que se diga, depende muito dos estados de espírito, dos regalos de menino, da quantidade de vezes que desejamos bom dia a velhinhos e velhinhas, das mãos não dadas, dos pés já dados e risos piegas que seja possível imaginar.

Mas essas estripulias sobre nuvens podem ser arriscadas. Quando se está sob a égide dos mistérios dos planetas-anões, tudo bem: as teorias gravitacionais sempre empreendem certa magia nas caminhadas e conversas amenas de quem quer que deseje por lá se aventurar. Não se pode encarar nuvens com a mesma serenidade. Não... Não... Muito esfumaçadas... Instáveis. Desrespeitam com rotina as Condições Normais de Temperatura e Pressão e, por consequência, provocam mudanças repentinas na direção dos ventos e dos rumos, viram uma bagunça só.

"Um, dois, três, pula um de cada vez... Um, dois, três, pula um de cada vez..."

Entropia formada. Algazarra, pulos, festa. Mas se sopram ventos confusos, de furacões que já passaram há um tempo, os gorrinhos se voam e as músicas mudam de lugar e tom. A cantoria, antes ecoada em alto e bom som - ao menos para os aventureiros -, vai ficando baixinha, sussurrada...

"O meu chapéu tem três pontas... Tem três potas o meu chapéu... Se não tivesse três pontas... Não seria o meu chapéu."

Sugeri que não eliminássemos logo de cara os chapéus, afeito que sou a eles. "Não. No chapéu não precisamos mexer ainda". Insisti que começássemos pelos pronomes possessivos. Eram mais curtinhos e poderíamos exercitar um sentimento de desapego, não sei. Tínhamos que entrar na brincadeira. Tudo bem que era uma brincadeira até então desconhecida, afinal veio de longe, sabe-se lá de que ventos. Mas continuamos. Uma palavra aqui, outra ali, e a música se esvaindo sem acabar.

Não sabemos quando acaba. Nem gorro nem chapéu ajudam nesses casos de ventos, nuvens e água fria.

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Decurso
Tentando consertar o chapéu, torná-lo maleável a circunferências.
Escutando baixinho.
Dormindo mais, o que é muito bom.
Tomando consciência do sonho no próprio sonho, o que é muito intrigante.


2 comentários:

Anônimo disse...

Bons ventos!

Neta. Evenice Neta disse...

É bom ler-te.
Mas difícil traduzir-te.
Talvez seja esse o encanto.
:*