Pesquisas empíricas do mês número seis

Não é cedo para conclusões. Apesar do ainda dia quatro, as bases de cálculo passaram longe de precipitadas. E os resultados são animadores. É certo, por puro cientificismo sentimental, que, nas manhãs do mês de junho, de cada dez velhinhos de bigode que encontramos caminhando na rua com uma sacola de pão à mão, nove, isso mesmo, nove deles respondem com um sorriso tímido se provocados por um sorriso igualmente acanhado. E mais: alguns até acenam para você - tudo bem se for um aceno, assim, bem de levinho. E mais (essa é para chorar): metade dos que acenam, pode perceber, que essa pesquisa foi realizada com especial afinco, usa óculos de lentes redondas. Não se pode aqui, e em momento algum, em qualquer lugar desse vasto mundo, negligenciar acontecimentos com essas circunstâncias. O que há com os bigodes e com as lentes redondas, a humanidade ainda não é capaz de investigar. Mas sigamos com os mistérios, que nem só de conclusões podemos viver. Não se sabe ao certo por que os clientes da padaria gostam mais da padaria no mês de junho. O que não é mistério é que quem gosta da canja quando ela vem carregada de legumes bate os pés de forma cadenciada. Será o forró que já se invade?... A sanfona te puxa para o dois pra lá, dois pra cá, não tem jeito. E a atendente da manhã, a Dona Fátima, fica toda serelepe. Veio até me perguntar se estava precisando de alguma coisa, se a canja estava gostosa. Carente que estou, fiquei esperando pelo cafuné ou qualquer afago que viesse. Coisas de junho.

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Decurso
Passando a gostar das manhãs silenciadas por sonhos alheios.
Imaginando os mesmos sonhos alheios.
Acordando mais do que devo com meus próprios.


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