Poemas esquecidos

Nesses tempos de prosa, ando encontrando alguns defeitos antes difíceis de perceber. É que, por mais que consigamos nos encarar no espelho com a frequência devida, é encarando rostos diferentes que conseguimos nos ver com mais clarividência. A situação é instantânea e espantosa, mas a revelação nos engradece com a mesma força.

E não sei, não há como saber, embora o tento, se a motivação maior de todo esse reflexo se dá pela feliz necessidade de se encontrar no olhar alheio, de se mostrar para esse outro olhar, que é tão singelo quanto misterioso, desconhecido das minhas faculdades ilusoriamente vividas.

Às vezes me vejo, e se trata, certamente, de uma pouco trabalhada imperfeição, como um conhecedor espetacular de si mesmo. Mas o autoconhecimento, ao menos quando tomado pela autoconfiança, pode gerar interpretações também instantâneas e, por isso mesmo, limitadas de um homem que luta a cada minuto com seus reflexos, na busca - vã, e daí? - de condições mais que perfeitas, como um verbo perfeitamente empregado  para a perfeita ocasião.

Sim, já tentei, mais que tentei, recusar tamanhos cálculos, tamanhas avaliações. Não dá para parar. Não quero parar. Ainda fermenta silenciosamente em meu peito a utopia de que tudo isso fará sentido, de que um dia encontrarei alguém que entenderá tudo isso de maneira mais natural que bolha procurando a superfície.

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