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Decurso
Llanto de dolor?
Sacrificio que se hizo?
Nunca sabré.
Ele estava sentado como se dormindo de olhos abertos, olhos inexpressíveis, a não se importar com minhas súplicas. As pernas flexionadas ao máximo, sua cabeça repousada sobre os joelhos em perfeito ajuste de formas. Braços e pernas envoltos a um grande casaco de plumas pardas, ou brancas eivadas de terra árida. Primeiro movimento. A cabeça, somente ela, inclinou-se em minha direção. Analisei, perplexo, o tom de despedida imbuído naquele aceno. “Chegou minha hora”, praticamente disse. Prantamente, vi se erguerem alguns poucos centímetros, permanecendo neste momento apenas os largos pés pregados ao chão. O movimento galináceo da cabeça a fronte propiciou o primeiro passo ainda
Há um homenzinho diferente, de hábitos peculiares e de difícil entendimento. Resguarda-se quase que integralmente, prevê seus atos, calcula antecipadamente o tamanho de suas palavras com uma régua que carrega em sua mochila. Cada palavra, uma medida. É nesta mochila, por sinal, inseparável às suas costas largas, que ele guarda segredos e surpresas. Mas não se engane. Ele mesmo não se engana. Seus atos e palavras são bastante falhos, embora previamente organizados. Sua régua é feita de tecido elástico, com marcações à mão de caneta tinteiro, e o homenzinho é desastrado em suas tarefas mais banais, como andar, segurar objetos, desviar dos mesmos. Ele canaliza as idéias, organizadas nem sempre, numa parte estratégica do seu cérebro e depois as separa, educadamente, em cada bolso, segundo qualidade, cor, tamanho e destinatário. Muitas vezes se perde por lá, maravilhado que fica, de modo a perder certos sentidos temporais e espaciais. O homenzinho se vislumbra muito facilmente com as pessoas também. Ele as admira de tal forma que pouco enxerga de ruim nelas. Apaixona-se pelos gestos, pelos risos, pelos silêncios e pelas incompreensões. Assim vive em paz o homenzinho, consigo e com todos, ele e sua mochila, carregados de ilusões e desapontamentos, numa eterna busca por onde pôr seus pensamentos, pelo tamanho de suas ações, pelo sentido completo de suas relações humanas. Eis um homenzinho.
"Em nossas instalações de fabricação, administração e distribuição, temos uma filosofia específica - as câmeras fazem com que as pessoas honestas continuem honestas"
Leo Myers, engenheiro de segurança e sistema de vigilância da Mattel, explicando o uso entusiástico pela empresa de sistemas de vigilância sobre sua força de trabalho global, 1990
Composição: Arnaldo Antunes/Alice Ruiz
Socorro!http://www.youtube.com/watch?v=tUvptUvijkA
Não tem como não perceber Samuel Rosa e Chico Amaral nessa canção.
Nem tem como não se encantar com a voz de Marina Machado (um achado). E ela ainda canta Grilos, de Roberto e Erasmo, e Seu Olhar, de Seu Jorge. Escutem. É preciso.
Nem tem como não curtir esse sonzinho bom de balada neo-bossa pop.
E tem como esperar, caboclo maluco. Tem como. "It's what is missing, my son. It's just this", disse ele, carregado de sapiência, riso bobo e falta de precisão nas palavras, como de costume. O caboclo maluco aprende. A gente aprende com ele também.
Recorro a Michaelis.
paciência
pa.ci.ên.cia
sf (lat patientia) 1 Qualidade de paciente.
paciente
pa.ci.en.te
adj m+f (lat paciente) 4 Pessoa que padece ou vai padecer.
padecer
pa.de.cer
(lat vulg *patescere) Padecer da cabeça: não ter todo o juízo.
Um abraço!
Trechos de crônica publicada no O POVO de 24 de abril de 2009.
ESCRAVOS DO SOL
Crônica de Pedro Salgueiro
Apesar da expressão “bonito pra chover” tão típica do cearense, a verdade que os cidadãos de Fortaleza não são acostumados com o acontecimento divino das chuvas.
É notória a falta de jeito do cearense coma chuva. Nós simplesmente não sabemos lidar com esse fenômeno climático anual (...).
Antigamente corríamos à procura do velho guarda-chuva esquecido em algum canto obscuro da casa, hoje nem nos damos a esse trabalho, pois ele é inteligentemente fabricado para durar apenas um “inverno”, e não raro nas primeiras chuvas com vento já entorta cabo e hastes, quando não “escangota” as desajeitadas asas rumo ao céus, nos deixando em situação vexatória. (...)
É sempre bom ler esse rapaz. Lembro do peso do morto.
Fortaleza, 11 de abril de 2009.
Margens definidas. Readaptação com a máquina
Palratório. Recuperamento de fôlego. Falando de vida. Ela faz mais sentido do que penso. É bom rir cara a cara com Ela. Pontos de vista mais do que necessários. Procuro algo pra me agarrar. Sinto-me seguro. Ter objetivos a curto prazo. Deixo-me encantar. Permito-me sempre que possível. Mas sempre é possível. Apaixonar-se também. É só uma mudança de ponto de vista. Satisfeito. Esperando ser surpreendido. Querendo surpreender.
22h 19min
10 de janeiro de 2008. Data da última postagem deste sofrido espaço midiático. Sofrido, sim, e por culpa minha, confesso, mas demonstro-me realizado por completo só de relembrar todo este vácuo entre 10/01/08 e 25/03/09, exatos 439 dias.
Fechado por placas pregadas por fora. Assim me sinto. Contando os dias, detalhando meus passos. Sensação de que me observo em microscópio, aumentado dezenas de vezes. Quantas vezes não reconheço este Souza que desliza num líquido viscoso. SOU, TODAVIA NÃO PODE SER EU. [capitulares por minha conta].
Como Souza, personagem com um furo na mão de Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão, sentia-me assim. Estranhava-me, pois era, mas não podia de modo algum estar sendo. Eu? Logo eu? Sendo? Um completo absurdo.
Até que continuo sendo querendo não estar sendo, mas não me incomodo mais. Um estranho entendimento substituiu um incômodo incômodo. Não pode ser eu, mas sou, e me encontro em profundo regozijo por isso. Profundo regozijo.
Sobre o sofrido espaço, tentarei com afinco atenuar suas dores.
Sobre Não Verás País Nenhum, além de muito recomendar, até empresto, se quiser.
Sobre o furo na minha mão, ainda persiste. Mostro-lhe se queres realmente o ver.